Capim colonião: a história da planta que ganhou o Brasil

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O capim colonião, também conhecido como Panium maximum, faz parte da história do Brasil colonial. Oriundo da África Oriental, ele veio nos navios negreiros como cama de escravos e se adaptou tão bem em nossas terras que muitos pensavam que ele fosse brasileiro.

 

Vale lembrar que o capim ficou conhecido como “colonião” pelas suas características, como porte alto e plantas vigorosas quando cultivado em solos férteis. Ele serviu de alimento para tropas de equinos, bovinos e muares durante as bandeiras e entradas pelo interior do Brasil na Época Colonial.

 

Como o capim que chegou ao Brasil não era da região africana, mas sim da área de dispersão secundária da espécie, não havia boa variabilidade genética para fins de seleção e melhoramento.

 

Capim colonião: pesquisa e melhoramento

O cenário mudou nos anos 80 e 90, quando começaram os trabalhos de desenvolvimento do capim colonião. O Instituto Agronômico (IAC) lançou as cvs. Centenário e Centauro. A Embrapa Cerrados lançou a cv. Vencedor e o IZ, a cv. Aruana. Com exceção desta última, as outras não fazem parte do portfólio de cultivares ainda em uso nos trópicos.

 

Na década de 1960, o ORSTOM — hoje, Institut de Recherche pour le Développement (IRD) —, uma instituição francesa de pesquisa, reuniu 142 materiais de Panicum maximum de diferentes origens. Por meio de estudos e consultas a herbários, verificaram que o Centro de Origem e Diversidade da espécie se restringia à África Oriental.

 

Foi em meados de 1967 que organizaram uma viagem de coleta ao Quênia e à Tanzânia. Entre as 249 amostras coletadas, encontraram apenas uma que mostrou ser sexual. Voltaram à Tanzânia em 1969 e, entre as novas 135 amostras, encontraram 22 plantas  sexuais.

 

O estudo da apomixia e geração de híbridos a partir da duplicação de cromossomos das plantas sexuais foi o assunto do doutorado do Dr. Yves Savidan. Durante mais de oito anos de trabalho, o pesquisador ficou na Costa do Marfim, trabalhando com outros pesquisadores do ORSTOM.

 

 

Por meio de um convênio realizado em 1982 entre a Embrapa e o ORSTOM, a Embrapa Gado de Corte recebeu toda a coleção de capim colonião, composta por 426 acessos apomíticos e 417 plantas sexuais.

 

Cultivares de Panicum maximum da Embrapa

Graças ao trabalho de coleta realizado pela equipe francesa do ORSTOM e de outros profundos estudos feitos na Costa do Marfim pelo Dr. Savidan — que acompanhou a introdução da coleção na Embrapa Gado de Corte em 1982 —, há um dinâmico programa de melhoramento desde 1990, com a liberação de cultivares que impactam até hoje a agropecuária tropical.

 

A consultoria do Dr. Savidan durou mais de cinco anos no Brasil e resultou não apenas no sucesso dos trabalhos com Panicum, mas repercutiu no melhoramento da Brachiaria, já que ambas possuem apomixia, um modo de reprodução que exige estratégias diferenciadas nos cruzamentos.

 

Além disso, o pesquisador abriu portas para a inserção de trabalhos brasileiros de desenvolvimento de cultivares forrageiras na comunidade científica internacional, com a participação em congressos e projetos na Comunidade Europeia.

 

Quais as possibilidades de uso do capim colonião?

A variabilidade da coleção de capim colonião representa a variabilidade natural da espécie e, por isso, é tão significativa a busca de genes para as diferentes características necessárias ao bom desempenho do capim em pastagens.

 

Além dos tradicionais tipos altos e cespitosos, há plantas baixas e, também, plantas estoloníferas na coleção. As possibilidades de expansão de uso para o capim colonião são infinitas.

 

Desde 1990, quando começaram os trabalhos da Embrapa Gado de Corte, foram lançadas várias cultivares, como as cvs. Tanzânia, Mombaça, Massai, Zuri, Tamani e Quênia.

 

O programa segue com a seleção de híbridos de portes alto, médio e baixo, com maior tolerância a estresses abióticos e bióticos e com boa produção de sementes, além da necessária produção de massa com excelente qualidade nutricional.

 

Os pecuaristas atuais serão continuamente beneficiados por um trabalho iniciado há tantas décadas atrás, mas que começou certo e que promete entregar cultivares cada vez mais produtivas para os diferentes sistemas de produção.

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